terça-feira, 10 de julho de 2007

O velho dia


E a chuva caía torrencial.
Encharcado até os ossos, ele caminhava pelas ruas a pensar. O que sou?
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
Uma poça aqui, outra acolá.
A água a correr pelo rosto como se fosse uma tormenta de lágrimas.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
As pessoas, os pequenos riachos formados pela chuva, os trovões,
e os esbarrões que ora dava ou recebia, nada disso o importunava.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem m parar, e sempre a pensar.
Somente o alimentava uma idéia fixa. Quem era?
Ele tinha impressão que séculos e séculos tinham passado, e que a vida
não tinha nem presente e nem futuro, tudo era igual. Todas as sensações
vividas e sentidas, todos os sonhos arquivados estavam a ser relembrados.
E mais idéias se formavam.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
O que fazia? Porque caminhava? Onde estava?Tinha ele cumprido o seu dever?
Existem tantas coisas por fazer.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
Quando se nasce já é a chorar, e o decorrer da vida é nunca acabar
de se magoar. Quem é triste e feliz? E quem é alegre e infeliz?
Ele pensava, não sei, não posso dizer e nem explicar se existe algo assim.
Creio mesmo que muitos são tristes e felizes, e outras alegres e infelizes.
É cômico pensar assim, que se pode ser triste e feliz ou então alegre e infeliz.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
É triste morar em uma favela sem conforto algum, mas se pode ali encontrar
o amor e ser feliz. Por outro lado se pode ter uma vida alegre e com conforto
e ser infeliz por não ter amor algum.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
E a chuva continuava a cair, e com ela à noite a se imiscuir.
O dia, o velho dia, morto de cansaço, e de chuva a se esvair, pensou que
sabia quem era, e porque não parava, porém trôpego e com as pernas
trémulas na vala acabava de cair, e a noite silenciosa com seu manto
negro o veio cobrir.

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