Um dia aziago de tempestades naturais, físicas e morais, a Miséria, a Fome, a Corrupção,
o Medo e a Peste, reúnem-se para deliberar o que fazer pelo Brasil.
Esta reunião foi ordenada pela sua Majestade a Morte.
A Miséria irmã da Fome adora os pobres, estava toda ouriçada com este conclave.
A Corrupção sobrinha da Miséria e da Fome, ama os políticos e os poderosos, também
estava em ebolição. O Medo e a Peste primos das outras, são especiais, adoram a
todos, os ricos e aos pobres, estavam felizes, aguardando boas novas, já estavam
imaginando grandes possibilidades de atacar o Brasil das desigualdades.
A Morte ordena que eles saiam pelo Brasil afora, em uma visita minuciosa, para fazerem
um reconhecimento da situação.
Após alguns dias de viagens pelo país, voltaram exultantes, o resultado da visita tinha
sido compensador.
A Fome se dizia realizada, pois estava mais que fortalecida com a atual situação.
A Miséria era só sorrisos, se sentia eufórica com o estado em que encontrou o país.
Fizeram um esboço do que viram, e aguardaram a analise que a Morte faria, esta
sem duvida alguma a real dignatária do apocalipse.
Passaram a fazer planos, para um ataque visceral e fulminante, e dar o que elas pensam
ser de direito a este lado do Atlantico.
Enquanto debatiam como seria a missão, bebericavam taças de sangue, neste interim
entra na sala o Medo, elas lhes oferecem uma taça de sangue, que ele prova, cospe
e reclama que o sangue está muito fraco, a Fome então o chama, e segreda-lhe que
a Morte tem um objetivo espetacular, e que ele será seu principal agente.
Ela lhe explica que o Brasil por excelência é o lugar que ela mais deseja para regar
a terra com muito sangue, do mesmo modo que ela faz com a África e o Oriente Médio.
Aqui é o momento de desenvolver essa maravilhosa catástrofe, pois a desigualdade
e a injustiça social estão completando quinhentos anos, é uma grande tentação
deixar passar metade de um milênio sem algum evento de vulto.
O Medo fica abismado com a possibilidade de uma orgia monumental, e fala com a
Fome: - vamos convocar esse povinho que se faz de medíocre, que nada reclama,
e se sente feliz com seus opressores, que gosta de sofrer, porque assim lhes foi
ensinado nestes quinhentos anos. - O Medo solta uma estrondosa gargalhada, se diz
feliz por saber que tudo isso foi patrocinado pela igreja e os maus políticos, por fazerem
crer ao povo que é da vontade de Deus. A Fome lhe responde - quem sabe se com
a nossa ajuda, mudem o modo de pensar e de verem a própria existência.
Temos os sem-terra, sem-teto, sem-trabalho, sem-camisa, sem-dignidade,
sem-esperanças, e por ai vai, uma infinidade de sem´s.
Temos os políticos e os poderosos, que nada querem dividir ou perder. Queremos
o sangue de todos. A Fome continua, a Morte pede que você se afaste dos sem´s,
passe para o lado dos políticos e poderosos, justamente porque quem vive sofrendo
uma infinidade de injustiças, necessidades e amarguras, não precisa de você,
amigo Medo, esses são apadrinhados da Morte.
Quem está com a Miséria, a Fome, e a Morte por perto, tudo pode, até derrubar
sistemas corruptos e nefasto a nação. - Vejo este país (continua a Fome), dilapidado
encontrar uma saída , e nos beneficiar. Teremos que agitar o sem´s em grande
escala, já os vejo invadindo prédios de luxo e mansões, fazendas, casas de ministros,
senadores, deputados, os apartamentos luxuosos da classe A, e nessa miscelânia,
misturado aos sem´s, os atuais milicianos dos grandes centros urbanos, os traficantes,
e seus soldados, com armamentos de ultima geração, gritando que devido as
ciurcunstancias são obrigados a vender drogas e negociar com o terror.
Nesta grande eclosão, o povo das favelas e periferia percorrendo as ruas vociferando
palavras de ordem, todos sabedores que a atual situação foi gerada pela inércia e
conveniência dos políticos. Os militares também se levantam, pois sofrem com a
baixeza moral em que vivem, saem as ruas, são filhos dessa nação, também tem
o direito de reivindicar o quinhão desse bolo que está sendo esfarelado. Eles gritam
que vivem de braços dados com a Miséria e a Fome.
Como um aparato de laboratório da Morte o fogo esparge suas chamas pelas cidades e
campos queimando tudo pela sua passagem.
A água em sua furia por ter sido represada por muito tempo, desce num caudal levando
tudo que está a sua frente, o ar poluído, envolvendo tudo e a todos sufoca.
A Morte feliz, reúne-se em torno de suas acólitas, procura saber por onde anda o Medo
que não está presente para a celebração deste grande acontecimento.
Lhe informaram que ele estava nas ruas com sua prima Peste banqueteando-se, ela
então levanta-se e grita: - vamos para as ruas, pois hoje é o nosso dia de glória,
vamos beber o sangue gordo dos poderosos que o Medo ajudou a ceifar, vamos deixar
o sangue fraco dos pobres a correr pelos ralos das ruas.
A Morte em voz forte e cavernosa, diz: - é uma tragédia necessária para afastar a
desigualdade e a injustiça.
Nesse instante a Fome, magrinha como só ela pode ser, olha para Morte e replica:
- você acabou de falar em desigualdade, e está demonstrando que ela vai existir
sempre, pois você quer beber o sangue forte dos poderosos, e deixar o dos pobres
correr pela sarjeta, isso é uma injustiça, sangue é e será sempre sangue -.
A Morte olha de esguelha para a Fome, e lhe responde: - faça o que desejar, mas,
não esqueça que diferenças sempre irão existir -. A Fome sai rápida para as ruas
a procura de seus despojos, e lembra-se que nesta refregra ainda existem os inocentes,
alguns são poderosos, mas não são inocentes apenas se eximiram de tomar uma
atitude, queriam usufruir o que pudessem tirar da vida. Vamos lhes dar a paga que
merecem pensa a Fome, vão receber de tudo, talvez um pouco mais do que os
pecadores. E porque não? eles tem o sangue forte da ausência, não queriam se
contaminar, tomando partido sobre coisa alguma.
É a sublimação de uma revolução que deveria ter acontecido no século XX,
porém nunca é tarde para fazer fludificar na sarjeta um rio de sangue.
Brasil 500 anos de dor, sangue, angustia, corrupção, medo, miséria e fome.
A Morte em sua voracidade igualou a todos nessa bacanal de sangue e dor, foi a
grande apoteose do século XXI.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
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