Marabô o Eremita, mandou alguém à minha procura. Já fazem alguns meses que não subo a serra.
Lá fui eu, imaginando receber uma reprimenda.
Ao deparar comigo na soleira de sua porta, deu um sorriso, como de hábito, disse-me, a chaleira
está no fogo lhe esperando, só você sabe passar aquele café forte e gostoso (pensei de imediato,
o homem hoje está bonachão), depois do café vamos fumar nossos cachimbos em nossa pedra
favorita à beira do rio. E você Abu-el-Moura, me dirá o que de insólito tem feito nesse periodo
de férias. Fiquei surpreso, lhe informei que nada fiz de extraordinário nesse meio tempo.
Apenas tenho me reservado a estudar a mim mesmo, procurando discernir onde estão os meus
defeitos, e como burilar e tornear-me, a fim de ser uma pessoa melhor e viver em paz.
Marabô o Eremita, olhou-me, e ficou a meditar, porém sem despregar os olhos de mim,
de repente, piscou, deu um sorriso inegmático, redarguiu, você pronunciou uma palavra que
gosto de ouvir, aliás uma não, duas, burilar e tornear. Continuou: Para isto o homem requer
paciência, visão e uma vontade ferrêa para mudar o aspecto de alguma coisa. Mais uma vez
Marabô o Eremita sorriu, deu uma baforada em seu cachimbo, me inquiriu com uma pergunta
assaz significativa para a ocasião. Abu-el-Moura, você poderia dizer-me o que é um metalúrgico
no poder e caso ele seja um torneiro-mecânico?
Fiquei a cismar com a sua questão, no entanto, entendi a ênfase que ele deu na palavra
metalúrgico. Porém antes que eu começasse a falar, ele continuou: Quando a cultura se veste de
orgulho presumido, e não procura ajudar aos menos favorecidos, ou melhor dizendo, que não
puderam ter acesso aos livros, é o mesmo que deixar de dar água há quem tem, sêde.
A elite sufoca ao ver e sentir que um ser menos exclarecido no conhecimento intelectual
chegou ao topo da pirâmide. Como aceitar um metalúrgico no comando da nação?
Ele nada sabe! Bem, pelo menos a elite pensa assim. Após essas palavras, Marabô o Eremita
quedou-se de olhos fechados a espera de ouvir a minha voz.
Fiquei a pensar alguns minutos. Perguntei-me em voz alta, será? E a faculdade da vida, nada vale?
E as lutas travadas nos tempos negro da ditadura, não teriam sido por ventura um vestibular
de alto nível? Como explicar que a elite governou por tantos anos e nada fez, ou melhor dizendo,
procurou fazer apenas para si mesma. Será que faltou vergonha na cara? Patriotismo? Ou somente
vontade política? Talvez execesso de ganância e ambição ao poder toldaram as boas intenções.
Os erros e acertos fazem parte de nosso cotidiano, a inveja, o orgulho, o despeito, o preconceito
e a intolerância também, por isso estamos na terra. Para notarmos tudo isto é por que estamos
vivos.
Então o que fazer? Aplaudir.
Marabô o Eremita, deu um sorriso, simplesmente proferiu uma palavra, gostei.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário