Com sua linha longa, e um tanto bojudo, parado há poucos metros da estação de passageiros, aguardava
os últimos preparativos para mais uma viagem.
Esse imenso pássaro, voraz em sua forma, havia engolido uma centena de almas.
Com seu dorso prateado, iluminado pela luz da lua seguiu devagar para a cabeceira da pista.
E dali, célere, em bela corrida, alçou vôo em direção as estrelas.
Subindo, subindo sempre, com um ritmado ronronar de seus motores, alcançou altitude suficiente para
seguir seu curso.
Acima das montanhas, transpondo mares, segue ele deslizando pela atmosfera. Em seu bojo mais de
uma centena de pessoas. Uns dormem, outros lêem, alguns conversam baixinho, um casal de velhinhos
mantém em seus rostos a satisfação de rever os lugares queridos de sua mocidade. Uma criança
choraminga. Existe aqueles que apenas procuram colocar seus pensamentos em ordem, passando
em revista os escaninhos de suas consciências, fatos que foram deixados milhas atrás, e também o
que deverá ser feito muitas milhas a frente, na próxima escala.
De repente, ninguém sabe como e porque, surge o espectro do medo e pavor. Fogo a bordo.
Faltam poucos minutos para chegar ao destino. O belo pássaro agora iluminado pela luz do sol,
descerá e obterá socorro, a chaga aberta pelo fogo será curada.
Todos a bordo rezam.
O comandante, como um bom pastor, tenta levar suas ovelhas para lugar seguro.
E o fogo inclemente corroí as entranhas da grande ave.
Mais cinco minutos, quatro, três... falta pouco, estamos quase chegando, já se avista o aeroporto,
falta muito pouco. Vamos grande pássaro, agüente mais um pouquinho!
Vamos resista, estamos quase chegando.
O pássaro de prata com o fulgor do sol em sua fuselagem brilha e rebrilha.
O fogo destruindo as suas entranhas o obriga a descer. Ele desce, e aos trancos entra em contato
com a terra. Pula, contorce-se em triste carreira, derrubando árvores, ceifando arbustos, dilacerando
e abrindo sulcos profundos na terra ele para, já não há mais possibilidade de socorro.
Então o lindo pássaro prateado ferido de morte é envolto pelas chamas.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
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