quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A construção

Fiquei a observar um edifício em construção.
Os homens que ali trabalhavam, o vai e vem pelas pranchas com o carrinhos
de mão, gritos e motejos dos peões. Notei que quase todos eram nordestinos.
Longe de seu torrão natal, vieram a cidade grande afim de conquista-la, mas
são de imediato engolfados.
Vieram com intenção de retornar ao seu rincão, levando o troféu da conquista,
porém isso não acontece. Com seus chapéus de palha, alguns descalços,
enfrentando sol e chuva, na árdua tarefa de dar a cidade encantada, mais um
belo arranha-céu. Eles trabalham, trabalham, sem um minuto de descanso.
Ganham pouco para o muito que fazem.
Procuro um deles, me parece ser o capataz, faço-lhe perguntas.
Muitos moram ali mesmo na construção, já que não teem condições de alugar
sequer um quarto.
Familia! Deus meu! É algo difícil de sustentar, vamos tentar.
Outras atividades, o que é isso? Me responde o capataz.
Ninguém sabe, não é bom nem falar.
O interessante é ainda poder rir, gracejar, brincar com os companheiros
de serviço pesado, como se fossem meninos de colégio.
Vamos esquecer tudo isso, vamos voltar ao trabalho! Tem-se muito o que fazer,
até o emboçar, e o prédio liberar.
Lá se vai o mestre de obras, apressado a gritar com seus homens.
Falo com um, falo com outro, até alguém se achegar, nesse momento outros mais
se aproximam, procuram saber o que eu quero, lhes explico que estou ali a
observar, um se destaca e pergunta, observar o que e porque?
Conto-lhes uma história, sinto que se apercebem, que quero deles falar, por letras
no papel e a eles imortalizar.
Gostam da idéia, um mais afoito e falante, começa a recitar o porque de ali
trabalhar. Ele olha para mim, diz: - moço tome nota, escreva ai nos seus "papés",
faz de conta que os anos passaram, e aqui voltei, venho caminhando com meu filho,
puxando-o pela mão, mostro a ele, que aqui trabalhei, que ajudei a construir esse
edifício viga por viga, tijolo sobre tijolo, andar sobre andar. Cada armação de ferro
colocada, cada pedrinha de concreto, cada tijolo assentado, cada dia de jornada
terminado eram milhares e milhares de gotas de suor que entranhavam no solo
de cada pavimento, eram como se fossem um selo por nós colocado, para mostrar que
aqui estivemos, que as pessoas que vieram morar aqui teriam orgulho de nosso arfar,
terminou ele -.
Olho para o homem, pergunto-lhe, como ele se sentiria se isso fosse verdade?
ele replica: - que uma parte é verdade, ele está ali na construção, o futuro que ele
almeja é justamente esse, de ter um filho e mostrar o que ele construiu, mesmo
sem usufruir daquele espaço, porém (continua ele), se o fizermos com amor, já
ganhamos a nossa medalha. Diga-me, quem irá tirar o meu trabalho que foi
concluído nesta construção? e o meu suor ali entranhado?
Já secou, mas a minha marca ficou.
Olho em seus olhos a marca da resignação, do herói anônimo, de uma alma que
possui a força de todos os deuses, que não precisa aparecer, apenas fazer.
Ele praticamente disse-me, sou simples como a vida, ou um dia de sol sem nuvens.
Fico extasiado e sem fala, bendigo aos céus por pertencer a esse povo.
Como é gostoso ser brioso e brasileiro.
Viva os peões de nosso país.

Brasil 500 anos de desigualdade

Um dia aziago de tempestades naturais, físicas e morais, a Miséria, a Fome, a Corrupção,
o Medo e a Peste, reúnem-se para deliberar o que fazer pelo Brasil.
Esta reunião foi ordenada pela sua Majestade a Morte.
A Miséria irmã da Fome adora os pobres, estava toda ouriçada com este conclave.
A Corrupção sobrinha da Miséria e da Fome, ama os políticos e os poderosos, também
estava em ebolição. O Medo e a Peste primos das outras, são especiais, adoram a
todos, os ricos e aos pobres, estavam felizes, aguardando boas novas, já estavam
imaginando grandes possibilidades de atacar o Brasil das desigualdades.
A Morte ordena que eles saiam pelo Brasil afora, em uma visita minuciosa, para fazerem
um reconhecimento da situação.
Após alguns dias de viagens pelo país, voltaram exultantes, o resultado da visita tinha
sido compensador.
A Fome se dizia realizada, pois estava mais que fortalecida com a atual situação.
A Miséria era só sorrisos, se sentia eufórica com o estado em que encontrou o país.
Fizeram um esboço do que viram, e aguardaram a analise que a Morte faria, esta
sem duvida alguma a real dignatária do apocalipse.
Passaram a fazer planos, para um ataque visceral e fulminante, e dar o que elas pensam
ser de direito a este lado do Atlantico.
Enquanto debatiam como seria a missão, bebericavam taças de sangue, neste interim
entra na sala o Medo, elas lhes oferecem uma taça de sangue, que ele prova, cospe
e reclama que o sangue está muito fraco, a Fome então o chama, e segreda-lhe que
a Morte tem um objetivo espetacular, e que ele será seu principal agente.
Ela lhe explica que o Brasil por excelência é o lugar que ela mais deseja para regar
a terra com muito sangue, do mesmo modo que ela faz com a África e o Oriente Médio.
Aqui é o momento de desenvolver essa maravilhosa catástrofe, pois a desigualdade
e a injustiça social estão completando quinhentos anos, é uma grande tentação
deixar passar metade de um milênio sem algum evento de vulto.
O Medo fica abismado com a possibilidade de uma orgia monumental, e fala com a
Fome: - vamos convocar esse povinho que se faz de medíocre, que nada reclama,
e se sente feliz com seus opressores, que gosta de sofrer, porque assim lhes foi
ensinado nestes quinhentos anos. - O Medo solta uma estrondosa gargalhada, se diz
feliz por saber que tudo isso foi patrocinado pela igreja e os maus políticos, por fazerem
crer ao povo que é da vontade de Deus. A Fome lhe responde - quem sabe se com
a nossa ajuda, mudem o modo de pensar e de verem a própria existência.
Temos os sem-terra, sem-teto, sem-trabalho, sem-camisa, sem-dignidade,
sem-esperanças, e por ai vai, uma infinidade de sem´s.
Temos os políticos e os poderosos, que nada querem dividir ou perder. Queremos
o sangue de todos. A Fome continua, a Morte pede que você se afaste dos sem´s,
passe para o lado dos políticos e poderosos, justamente porque quem vive sofrendo
uma infinidade de injustiças, necessidades e amarguras, não precisa de você,
amigo Medo, esses são apadrinhados da Morte.
Quem está com a Miséria, a Fome, e a Morte por perto, tudo pode, até derrubar
sistemas corruptos e nefasto a nação. - Vejo este país (continua a Fome), dilapidado
encontrar uma saída , e nos beneficiar. Teremos que agitar o sem´s em grande
escala, já os vejo invadindo prédios de luxo e mansões, fazendas, casas de ministros,
senadores, deputados, os apartamentos luxuosos da classe A, e nessa miscelânia,
misturado aos sem´s, os atuais milicianos dos grandes centros urbanos, os traficantes,
e seus soldados, com armamentos de ultima geração, gritando que devido as
ciurcunstancias são obrigados a vender drogas e negociar com o terror.
Nesta grande eclosão, o povo das favelas e periferia percorrendo as ruas vociferando
palavras de ordem, todos sabedores que a atual situação foi gerada pela inércia e
conveniência dos políticos. Os militares também se levantam, pois sofrem com a
baixeza moral em que vivem, saem as ruas, são filhos dessa nação, também tem
o direito de reivindicar o quinhão desse bolo que está sendo esfarelado. Eles gritam
que vivem de braços dados com a Miséria e a Fome.
Como um aparato de laboratório da Morte o fogo esparge suas chamas pelas cidades e
campos queimando tudo pela sua passagem.
A água em sua furia por ter sido represada por muito tempo, desce num caudal levando
tudo que está a sua frente, o ar poluído, envolvendo tudo e a todos sufoca.
A Morte feliz, reúne-se em torno de suas acólitas, procura saber por onde anda o Medo
que não está presente para a celebração deste grande acontecimento.
Lhe informaram que ele estava nas ruas com sua prima Peste banqueteando-se, ela
então levanta-se e grita: - vamos para as ruas, pois hoje é o nosso dia de glória,
vamos beber o sangue gordo dos poderosos que o Medo ajudou a ceifar, vamos deixar
o sangue fraco dos pobres a correr pelos ralos das ruas.
A Morte em voz forte e cavernosa, diz: - é uma tragédia necessária para afastar a
desigualdade e a injustiça.
Nesse instante a Fome, magrinha como só ela pode ser, olha para Morte e replica:
- você acabou de falar em desigualdade, e está demonstrando que ela vai existir
sempre, pois você quer beber o sangue forte dos poderosos, e deixar o dos pobres
correr pela sarjeta, isso é uma injustiça, sangue é e será sempre sangue -.
A Morte olha de esguelha para a Fome, e lhe responde: - faça o que desejar, mas,
não esqueça que diferenças sempre irão existir -. A Fome sai rápida para as ruas
a procura de seus despojos, e lembra-se que nesta refregra ainda existem os inocentes,
alguns são poderosos, mas não são inocentes apenas se eximiram de tomar uma
atitude, queriam usufruir o que pudessem tirar da vida. Vamos lhes dar a paga que
merecem pensa a Fome, vão receber de tudo, talvez um pouco mais do que os
pecadores. E porque não? eles tem o sangue forte da ausência, não queriam se
contaminar, tomando partido sobre coisa alguma.
É a sublimação de uma revolução que deveria ter acontecido no século XX,
porém nunca é tarde para fazer fludificar na sarjeta um rio de sangue.
Brasil 500 anos de dor, sangue, angustia, corrupção, medo, miséria e fome.
A Morte em sua voracidade igualou a todos nessa bacanal de sangue e dor, foi a
grande apoteose do século XXI.



sábado, 25 de agosto de 2007

Compartilhar

Compartilhar, eis uma palavra que me era desconhecida.
Um belo dia, minha garota fez com que eu tivesse conhecimento.
Explicarei porque me era desconhecida.
Como filho único, nunca me dei ao trabalho de olhar para os lados.
Digamos que o que era meu, era somente meu. Porém, a minha
menina fez-me vislumbrar uma outra parte, da qual eu andava ausente.
O sentimento de posse era muito forte. Ela de diversos modos me fazia
ver quanto eu estava errado. Dizia-me ela, só temos posse de nosso corpo
e mente, o restante são componentes de um cenário do qual estamos
participando. Justamente por esse motivo devemos compartilhar.
Dividir nossas posses, dividir nossas ilusões, dar aos outros apoio quando
necessário. Imaginar que um dia nos será requisitado o que temos e neste
momento deveremos ser magnânimos. Como dizia minha menina, nada temos,
nada é tão importante no campo material.
Apenas o amor ao próximo é digno de nota.
Quem nada tem, nada pode dividir, mas, tem o coração. Com esse imenso poder
do coração, quantas coisas podemos dividir, desde a tristeza, até a alegria de
viver, de distribuir sorrisos e amor por onde passar.
Ou seja compartilhar o cerne da vida. Jesus Cristo nos mostrou isso.
Deu a todos o que podia, inclusive a dor que ele sentiu no momento de sua morte.
Ela foi compartilhada por toda humanidade.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Saquarema

Pego jornais de outras cidades, vejo uma série de eventos programados,
e alguns acontecimento de vulto na Região dos Lagos.
Vejo em determinada página de um jornal um sumário indicando as localidades
e datas das realizações, fico pasmo, todas as cidades da Região dos Lagos estão
ali relacionadas, falta apenas uma, Saquarema.
Estou no momento em Cabo-frio, me dirijo a um senhor que está a porta de uma loja,
com um livro na mão. Pergunto-lhe se sabe alguma coisa referente a Saquarema.
Ele prontamente responde, que esse lugar não existe, pois os políticos dessa
localidade dilapidaram o que poderia existir de melhor por lá. Fiquei surpreso com
essa resposta. Tentei interpela-lo, porém pediu que eu o ouvisse. Foi mais longe,
disse ter tido uma loja naquele sítio, porém foi obrigado a sair, pois nada acontecia.
Todas as vezes que pessoas de bem procuraram dar um impulso maior a cidade,
os políticos queriam dinheiro não mão para permitir qualquer acontecimento.
A prova maior é que todas as empresas de vulto que por ali aportaram saíram
fugidas da sanha pedradora dos sanguessugas. Que não era necessário fazer um rol
dessas empresas que todos conhecem. Ele continuou, basta dizer que não registraram
a coitada da cidade como um dos pontos turísticos da região, e o pior de tudo amarram
o povo em currais eleitorais. Na época das eleições, os candidatos fazem uma verdadeira
maratona, é uma espécie de brincadeira, ¨barata voa¨, ou seja voa telhas e tijolos,
e mais algumas coisas. O candidato que se propuser a dar mais telhas, tijolos, canos,
sacos de cimento, e por ai vai... certamente receberá o diploma de Edil.
Não sei quem é o pior, se os candidatos na ânsia de se elegerem, ou o povo na ambição
de receberem suas dádivas. De qualquer modo, sentimos que um se habituou a tirar
tudo que puder do outro. Vivi ali 35 anos, e vi esses anos passarem de forma triste
para a cidade. Mas o que podemos fazer? O povo recebeu uma educação diversa dos
outros cidadãos das outras cidades. Depois de eleito, os vereadores querem tirar tudo
dos cofres públicos, por que eles investiram em telhas, tijolos, cimento, canos, etc... etc...
e o povo nada pode dizer por que venderam seu voto, ou melhor sua alma.
Pobre Saquarema, ela ainda aparece algumas vezes no noticiário jornalístico, quando
pegam algum bandido de cunho internacional, ou quando se esquecem que ela deve
permanecer no ostracismo, e organizam um campeonato de Surfe.
Meu amigo basta dizer que o circuito de Moto-Cross também saiu. O que mais você
pode pensar de um descalabro dessa natureza?
Veja, Araruama, Iguaba, São Pedro, Buzios e aqui Cabo-Frio, e assim por diante, todas
as cidades da região, tem uma plêiade de peso trabalhando em prol delas, querendo cada
uma mostrar que é melhor e mais bonita, que seu povo é inteligente e procura a cultura,
as artes como qualquer povo civilizado, agora Saquarema meu amigo, o senhor me
desculpe, saia de lá, não vai lhe fazer mal algum, e o senhor ainda vai ganhar.
E por fim a festa do Círio de Nossa Senhora de Nazareth, o segundo em importância
do país, transformado em uma feira de quinquilharias, como se a fé tivesse expirado
sua tristeza em decorrência da materialização.
Fiquei a cismar com essas atrozes palavras sobre a minha cidade, sim minha, porque
escolhi viver nela. Ainda tenho esperanças que um dia poderei vê-la com toda pompa
que lhe é devida. Aqui estou há duas décadas. Acho a cidade majestosa, tem lugares
que é uma verdadeira poesia. Por exemplo: perto da ponte do Jirau, aquela esplanada
de onde você pode descortinar todos os quadrantes. Ali naquele posto o raiar do dia é
uma coisa sublime, olhando-se em direção ao morro da Cruz, ver o sol levantando-se,
ou então o poente em direção a Barra Nova. O mirante do morro da Cruz, de lá,
seja ao por do sol ou em noite de lua cheia, é sempre extasiante.
Para nos deleitarmos com uma visão especial, vamo-nos transportar a praia de Itauna
em noite de lua cheia, essa se erguendo como se saísse do mar, esse em sua homenagem
ficando prateado, como uma estrada de luz, evocando passarelas de anjos descendo
do céu para nos abençoar. A praia da Vila no verão, regurgitando de gente, com alegria
estampada no rosto, o por do sol, a cerveja gelada, o peixe frito aromático.

Para finalizar, com a mais bela visão de todas, a igreja de Nossa Senhora de Nazareth,
erguida em 1630,(os portugueses sabiam escolher os observatórios), dali podemos
descortinar uma paisagem invejável, é tão linda, que só palavras não bastam para
descrevê-la, é preciso vê-la e ao mesmo tempo senti-la.
Meu Deus temos tudo, só nos falta o senso ético de nossos políticos e povo, para sermos
a mais aprazível cidade da Região dos Lagos.
Viva Saquarema, viva a minha cidade.








quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A esperança é uma passarela

O sol se pôs.
A caminho de casa olhando a paisagem que desfila diante de meus olhos,
vejo as luzes dos outros carros que cruzam por nós.
No ônibus em que viajo, a maior parte dos passageiros conversam,
outros lêem, alguns preferem dormitar. Eu escrevo. Porque?
Para que? A quem eu escrevo? Não sei, e nem saberei dizer.
Volto a escrever, o ônibus sacode, a caneta corta o papel qual uma
navalha rompendo a pele de alguém. Assustou-me com esse pensamento.
Volto a olhar para fora, a janela está aberta, sinto o vento silvar
nos meus ouvidos, sinto o vento dizer-me quão pequeno eu sou.
Paro de escrever e medito. Pergunto-me porque isso? Sou feliz ou infeliz?
Triste ou alegre? Também não sei dizer. Retorno a escrever. Olho para o céu,
vejo as estrelas tão miudinhas, tão longínquas. Pergunto-me novamente
porque isso? -É uma infinidade de questionamento.
Meu espírito é forte ou fraco? Saberei enfrentar a vida com dignidade?
Fracassarei no que comecei ou conseguirei transpor os obstáculos?
Medo! Não, não o sinto, ao contrario, sinto uma calma infinita, como se
alguém superior esteja velando os meus passos. Tenho sono, sinto uma moleza,
mas não é cansaço. Sinto um langor extremo, quero dormir. Sinto que se eu
dormir, quando acordar estarei melhor, e tudo que faz parte da minha vida
também. Tento analisar esta situação, mas não sei como fazer.
Não tento comparar-me a outra pessoa, porque sou homem, e um homem não pode
ser comparado, sou um indivíduo (como dizia meu avô), sou único.
Sei que existem muitas idéias que estão que estão em acordo e desacordo
com o ambiente em que vivo. Regras tenho que seguir por dever a Deus e a
sociedade.
Sinto que dormi, mas, não entendo, vejo que rabisquei uma centena de palavras.
Enfim, volto a olhar para fora do carro em movimento, olho o meu reflexo
mo vidro da janela, algo me diz que agora irei compreender o que está
acontecendo.
Descobri que alguém acredita em mim.
Eu pelo meu lado da mesma forma, acredito em outro ser vivente como eu.
Depositei fé e esperança, e isto nos da uma força imensurável.
Não podemos ser uma ilha cercada de gente por todos os lados, sem ter uma
embarcação ou uma ponte que nos leve para o outro lado.
Esse outro lado é o amor, bendito amor, que nos leva acreditar que a vida
é bela. Que a esperança é uma passarela que atravessamos tendo fé.

Unidos chegaremos a mesma gare

Eles estavam sentados a beira mar.
Ela com um caderno fazia anotações, ele a olhar a linha do horizonte.
Tinham tido uma discussão sobre o pensamento e sua fluidez, como ele
desliza pelos trilhos da vida como se fosse um trem em alta velocidade.
Cada qual com seu ponto de vista. Onde a força, reside na teimosia e
orgulho, ninguém quer ceder. Não se davam conta que pensavam
paralelamente como se fossem trilhos, embora não se toquem, mas o
destino é o mesmo.
Ela tinha lhe dito para não fugir de seus sonhos e que estaria apta
a ajuda-lo, caso assim ele o quisesse. Ele porém achava que o caminho
já está traçado, que pessoa alguma poderia ajuda-lo.
estavam ensimesmados, remoendo suas quimeras, quando passa uma criança,
com uma mochila nas costas. A mãe da criança chama-lhe a atenção.
Passa murmurando algo, sobre a mochila de seu filho, que está muito
pesada, e seria bom tirar algumas coisas e dividir com ela.
O menino(era um menino), com toda teimosia que lhe ia n'alma,
responde-lhe que nada tem para dividir, que tudo dentro da mochila era
seu. A mãe, como só as mães soem fazer, da um sorriso e lhe diz, não vou
me apoquentar com essa sua decisão, pois mais adiante você não estará
suportando o peso e terá que dividi-lo com alguém. O rapaz ouviu a mãe
do menino, olhou intensamente para sua companheira, até que essa se
apercebeu, sorriu e perguntou-lhe, porque me olhas assim?
Ele muito serio, replica, uma mãe e seu filho, acabaram de passar, sem
ao menos voltarem o olhar em nossa direção, me deram uma lição.
A mulher com o lápis entre os dentes, da um sorriso, e lhe diz,
penso que você esteve sonhando, não vi pessoa alguma por aqui passar.
Não? - responde ele - não, acabei de aprender uma lição. Estava pedindo
a Deus uma resposta ao meu problema, quando eles passaram.
Ela responde, realmente não vi passar pessoa alguma por aqui.
Ele replica você estava absorta em suas anotações.
O que você aprendeu? pergunta ela.
Aprendi que não estarei fazendo uma divisão com você, mas adindo.
Pois o peso de minhas idéias, estarão sendo aliviados pelo contrapeso
das suas, é o equilíbrio que me falta.
Se estivermos unidos chegaremos a mesma gare. Pois é o nosso trilho.
Ela esboçou um sorriso, suspirou aliviada por sentir que seu homem
a estava incluindo em seus planos. Era só isso que faltava para serem
felizes. Ele levantou-se foi até onde ela estava sentada, beijou-lhe
com carinho. Levantaram-se, entrelaçaram as mãos e saíram contentes
com as suas descobertas.

Passarela da vida

Em pleno carnaval, me dei conta que desfilo na passarela da vida,
com minha fantasia feita de sonhos.
Vejo que a realidade esta além do que pensei viver e ter vivido.
Porém penso que além, aquém, são meras palavras colocadas em
frases organizadas no vocabulário da sociedade, para lhes dar uma
nota naquilo que chamam sucesso.
Podemos considerar que o status é dado a beleza material.
Na cronologia das notas, a beleza distraída que nada assimila,
pensa apenas no gozo e na paixão descontraída, leva a nota mais
alta. A beleza madura. Que tem uma visão critíca, recebe uma
nota mais baixa do que merece. Mas que fazer, porque criticar?
A beleza espiritual, que vê no poder do amor a saída para um
mundo melhor, como nota, recebe a inveja e o ódio. Pois os que
nada tem na alma, são os que julgam e acham que são possuidores
do direito de fazer sucumbir o amor. Tirando da vida a solidariedade.
Vejo alguém se aproximar, com um papel na mão, e falar, eis a sua
nota. Quanto tento ver a nota que recebi... Sinto-me sendo sacudido,
estava dormindo, estava sonhando. Sonhei com esse desfile.
No centro da passarela tudo era brilho, havia muita luz.
Mais ao fundo sombras, muitas sombras, e um grande salão, em cada
parte do salão muitas pessoas, todas a rirem, com suas notas na
mãos. Todos fantasiados. Os palhaços pulavam e cantavam uma
medíocre canção, com estranho estribilho, onde a tragédia era pura
emoção. - Ódio e ira, que bom, só a morte tira.
Alegria e tristeza, vamos sentar que é boa mesa.
Sofrimento e dor, talvez seja bom, porque dai nasce o amor.
Amor e morte, quando acabar, vão dizer que lindo consorte.