terça-feira, 31 de julho de 2007

Uma réstia de luz se apaga

Na linha do horizonte vejo no mar o céu encostar.
Vejo a luz do dia rebrilhar nas águas, como se fosse
prata liquida.
Sinto a riqueza da natureza mostrando aos homens que
é belo amar. E os homens não aprendem, continuam a
se odiar.
Quantas vidas tiradas nesse dia?
Quantas mães a chorar?
O rico mata o pobre, por ele ser pobre.
O pobre mata o rico, por ele ser rico.
Os políticos roubam o povo, porque o povo assim o quer.
A parceria homem e mulher, está cada vez mais difícil.
Viver por viver! Me perguntaram, porque viver?
Sentir dor, sentir lágrimas quentes correndo pelo rosto,
passamos a língua, e sentimos o gosto de sal.
Quantas crianças chorando? Pergunto eu!
Porque viver para o mal?
O rio correndo para o mar, tão sujo, tão poluído, é triste
viver assim.
O casal ao lado olha para mim.
Ele sacode a cabeça para ela a dizer não.
Ela bela e jovem, diz não quero viver assim. Olha para o
seu homem, e fala, amor porque Deus não se lembra de mim?
Ele também jovem, responde não acredito! Esqueça Deus,
lembre-se de mim. Aqui estou, muito perto, é o calor do
meu corpo que neste momento aquece o seu.
É o reflexo desse céu que se encosta ao mar, que é Deus.
Com o sol brilhando no espaço, a bela jovem põe a cabeça
no seu regaço. Ele a olha com carinho. Beija sua boca com
sofreguidão.
Escuta-se um estampido, uma bala perdida, seu corpo cai
para a frente, por cima do corpo dela. Ela assustada, sem
saber ainda o que aconteceu, olha para o mar, vê uma réstia
de luz se apagar.
De outro modo não poderia ser. Os homens continuam a se odiar.
Uma lágrima de dor corre pelo seu rosto a procura do mar.
Fico a pensar...
Como Deus permite que neste mundo chamado terra, tantas
desgraças e loucuras tenham lugar?

Escrever

A escrita como uma das mais remotas necessidades do homem
civilizado, para mim é algo maravilhoso.
Escrever é sonhar, é viver, é sentir as delicias de uma vida
imortal, é transpor todos os muros de nosso pequenino universo.
Escrever é elevar-se a Deus. É sentir sua infinita bondade,
é comungar com os anjos, é ultrapassar todas as barreiras das
leis impostas pelos homens.
Escrever é fugir a hipocrisia, ao ódio, a mentira e as injustiças.
Escrever é sabermos que por esse meio leva-se conforto e alegria
a outro ser que está distante.
Escrever é o renascimento do ser que recebe uma missiva,
por saber que no mundo ainda resta alguém que lhe quer.
Escrever também tem o seu lado mau. Não poderia deixar de ser assim,
somos humanos.
Escrever para alguns, é vilipendiar, é ferir, é caluniar, para
esses é transformar o delicado bico da pena em um monstro.
Escrever para esses é fazer da tinta sua peçonha.
Mas quem assim procede nunca será feliz, porque Deus, como
símbolo do poder e justiça, quebrará essa monstruosa pena
e a tinta em forma de peçonha para o esgoto correrá.

Uma estrela

Sendo mais forte do que a fortaleza.
Sendo mais débil do que a incerteza.
Sendo mais fraco do que um bebê.
Como posso faze-la, eu merecer.
Como senti-la sem tê-la?
Como viver sem vê-la?
Esta é a minha vida, me falta uma estrela.

As letras são fortes

Vamos para o papel tudo passar.
Vamos em letras tudo transformar.
Vamos ver as palavras. Palavras?
Sim, palavras, temos que as traduzir.
O teor não importa, às vezes as letras
já nascem mortas.
Mas as letras são fortes, elas geram palavras.
Quando isso acontece faz da vida um diagrama.
Que fazer com esse diagrama?
Vamos as letras contar, pode ser que uma
história elas venham a falar.
Meu filho! Tudo é história, é nunca acabar.
Veja! A tragédia chegou, a todos fazendo chorar.
Olhe! É a bonança. Que bom, a todos a alegrar.
Então vamos a todos contentar.
Vamos distribuir, saúde, esperança e amor.
Desse modo, todos a vida vão saudar.
Olhe! Olhe!
E aquele moço, parece que está a se coçar.
Não, ele está querendo dali sair, e ficou a balançar.
Porque balançar?
Porque se ficar, muitas coisas vai encontrar, e não
sabe se vai gostar.
Se sair, perde o que construiu, e derrotado vai se achar.
Ele tem medo. Medo? Porque ter medo?
O mundo lá fora é muito belo, grandes coisas vai encontrar.
Mais ele não aprendeu a ser ágil, para a vida arrostar.
Então ele na luta tem que entrar, aprender a perder e a ganhar.
Para a dama Vitória ele encontrar.

Quisera poder...

Quisera poder saber se alguém vive sem chorar.
Quisera poder saber se alguém vive sem sonhar.
quisera poder saber se alguém vive sem se amargurar.
Quisera poder saber se alguém vive sem amar.
Quisera poder saber contar histórias para crianças.
Quisera poder fazer brinquedos com as quimeras.
Quisera poder levar a todos felicidade e esperança.
Quisera poder tirar de todos a tristeza que gera.
Quisera poder tirar o ódio dos homens.
Quisera poder tirar a fome do mundo.
Quisera poder tirar a ganância do homem.
Quisera poder tirar a dor do fundo.
Quisera poder dar a todos a igualdade.
Quisera poder falar a todos de fraternidade.
Quisera poder trazer a todos a jovialidade.
Quisera poder realizar a força da criatividade.
Quisera poder ser o mago da esperança.
Quisera poder sonhar, o sonho da minha vida.
Quisera poder viver eternos dias de bonança.
Quisera poder encontrar o amor da minha vida.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

A árvore vai ficar

A sombra de uma grande árvore, recostada em seu tronco, uma menina
chorava. O que teria acontecido?
Porque esse choro convulsivo? Terá acontecido algo com sua familia?
Será que seu amor partiu, ou morreu?
Terá ela feito algo de errado?
Vamos nos aproximar, vamos chegar bem devagar, não podemos
assusta-la. Quem sabe se ela poderá nos contar?
Tanta tristeza assim, para uma menina é de cortar o coração.
Porque chora menina? Ela em soluços, responde, a árvore.
Não conseguimos entender. Perguntamos novamente.
Ela gaguejando e em soluços, responde novamente, a árvore.
Pedimos que ela se acalme, e nos responda devagar.
Respire fundo menina, e bem devagarinho, veja se pode nos explicar,
tudo faremos para lhe ajudar.
Ela nos olha. Com aquele olhar embassado de lágrimas, começa a
soluçar. Esperamos ela se recuperar, que fazer?
Ela volta a nos olhar, e agora mais calma, começa a nos explicar.
Eu choro por essa árvore, que me conhece desde pequenina,
eu ainda não sabia falar, e ela estava aqui para me sombrear.
Os homens maus a querem matar. Dizem que uma estrada por aqui
vai passar, e ela no caminho não pode ficar.
Calma menina, calma, você com ainda está.
Vamos ver o que podemos fazer. Temos certeza que uma boa
solução, vamos encontrar, e essa árvore vai ficar.
Clamaremos aos céus e a Deus, mas homem algum essa árvore
vai cortar. Após nossas palavras, a menina enxugou as
lágrimas, abriu um sorriso e começou a cantar:
A árvore vai ficar, a árvore vai ficar.
Quando estiver muito calor o meu corpo sombrear.
Saiu a correr, a sorrir e a brincar.
A árvore vai ficar.

Uma página para ela

Quando a vi pela primeira vez, foi em uma recepção.
Achei-a diferente de todas.
Mas austera e ao mesmo tempo mais suave.
Senti uma bela sensação ao fitar seus belos olhos.
Em seu sóbrio, porém elegante vestido verde, combinando
com os matizes azul-esverdeado de seus olhos, apresentou-se
a mim como um quadro de algum famoso pintor da renascença.
Estávamos em um vasto salão, magnificamente ornado com flores
e frutas. Pessoas elegantes evoluiam pelo ambiente como
pássaros a gorjearem. Viam-se sorrisos distribuídos por todos
que ali aportavam.
A noite estava linda, o céu era todo estrelas, não tinha nuvens,
tudo era belo.
Os anfitriões nos convidaram, para um outro ambiente.
Passamos para o jardim, de onde assistiríamos diversos tipos de
apre4sentações artísticas. Aproveitei esse momento para ficar
postado a beira da piscina em um ângulo de onde pudesse vê-la.
Ela estava conversando com outras pessoas da qual formávamos
um grupo. Pude bem observar sua expressão, ao falar, ao ouvir
e ao sorrir. Ora ela estava alegre, ora tristonha e meditativa.
Seu sorriso era delicado e suave. Em alguns instantes notei em
seus semblante um ar de melancolia. Fiquei a meditar...
que será que lhe vai n'alma? Que será que se esconde por trás desses
belos olhos? Parece tão só! Porque?
Para saber o que se passa terei que me aproximar e perguntar.
Abstive-me de falar, para poder na semi-obscuridade deleitar-me a
contempla-la. É tão bela de maneiras finas, parece uma rainha.
Sim ela tem porte de rainha. Poderei fazer desaparecer em seu
semblante esse ar melancólico? Só em pensar desse modo, senti um
inefável bem estar. Houve uma transformação em mim, por que onde
existiam cinzas, o sopro de uma cálida e reavivante brisa fez
nascer uma pequenina chama, que pouco a pouco foi tomando forma.
Não será uma crepitante fogueira de chamas desordenadas, qual um
incêndio, mas sim, o fogo brando de uma lamparina. Essa luz que
ansiamos quando nos sentimos em trevas.
Sim! Senti essa luz, essa chama que tanto procuro, e só ela com
esse ar despretensioso pode dar-me.
Ela aquiesceu ao meu toque de mão, então saímos de mãos dadas
em busca do futuro.

25 anos

A você...
Vinte e cinco anos, um quarto de século.
Passam-se os anos, a infância e a puberdade.
Depois sentimo-nos adultos, pudera 25 anos!
Que foi feito daquele mundo em que vivíamos?
Como por encanto tudo desapareceu, agora é tudo
novo, diferente. Encontramos um ambiente onde
passamos a notar situações ambíguas, e vemos
também que não é o que pensávamos quando crianças.
Vinte e cinco anos, idade bonita, já vivemos
um quarto de século. Já aprendemos tantas coisas,
que nos da uma visão maior do mundo, mas, nos deixa
chocados com a barbaridade da vida.
E daqui por diante, temos ainda tanto para aprender.
Porém, vinte e cinco anos exprime vigor, energia,
jovialidade e muito mais.
É a idade da afirmação do ser.

Só o poder

Quando eu era menino, após a missa, o padre veio até nós crianças, e disse que
iria traduzir o sermão daquele domingo, pois era muito importante, e fazia questão
que nós viéssemos a entende-lo.
Ele tinha falado sobre o poder, o bem e o mal.
Que o inicio de tudo para nós, são os nosso lares, pois é ali, o celeiro de onde
tiramos nossos alimentos físicos e espirituais.
Que o nosso lar é justamente o local onde estão guardadas as sementes que irão
germinar no nosso dia-a-dia. porém que não esquecêssemos que apesar de tudo,
a vida fora de nossas casas tem uma força muito superior.
É nessa hora quando estivermos fora de nosso aconchego, que teremos de nos adaptar
aos valores e conceitos que nos serão incutidos no decorrer de nossas vidas.
O código de ética que nos foi ministrado quando éramos crianças ficará desajustado
ou mesmo bloqueado em comparação aquele que estaremos sendo obrigados a viver.
Saber viver é a maior primícia do ser humano. Astúcia, audácia, discernimento,
conciliação e tolerância, são algumas armas que devemos usar para podermos chegar
a um lugar ao sol.
Mas no momento atual, o homem usa a astúcia e a audácia para mudar os valores da
moral. E a sociedade mede seu desempenho em aquinhoar bens materiais e a dissolver
seus rivais na luta pelo poder.
Discernimento, conciliação e tolerância, serão usados juntamente com a astúcia,
para que você não deixe que seus pares ocupe o espaço que por direito e mérito
lhe coube, isto é, será que houve mérito?. Nesse momento você recordará dos tempos
de menino, que a vida era mais fácil, o único praticado no seu meio era tentar
fugir das aulas.
Agora você sente que alguma coisa ou pessoa tenta lhe bloquear a ascensão.
Então você lembrará que em algum tempo atrás, em uma bela manhã de domingo
um padre fez alusão ao poder, ao bem e ao mal.
Perplexo, você recordará que lhe foi dito, que no topo da pirâmide não existe
o conceito de bem ou mal, apenas quem é o vencedor.
Simplesmente quem usará o Poder.

Campo de batalha

O céu cinzento com grossas nuvens prenunciava um dilúvio.
O vento forte trazia o cheiro de pólvora, de sangue de carne queimada e em
decomposição. Era o próprio inferno materializado.
A terra juncada de sangue e lama tremia. O matraquear da metralha, os morteiros
e granadas ao caírem semeavam a mor, a dor e a destruição.
Com impactos apocalíticos, as bombas formavam um dantesco quadro de corpos queimados
e retorcidos em grotescas posições. O medo, o pavor e o ódio se espalhavam pelas
fileiras de homens embrutecidos pelo flagelo da guerra. Como se só isso não bastasse,
a fome, o frio e as doenças vinham partilhar o banquete em que a morte é a anfitriã.
Jamais poderemos colocar em ordem cronológica o que pode ser pior.
Se for a fome, o ódio, as doenças e o frio, ou se é a destruição dos homens no front,
ou se é a destruição moral e espiritual dos homens que retornam dos combates.
Talvez venha ser o ódio insuflado nas nações por homens que jamais pisarão em um
campo de batalha. Esses Homens tudo fazem para colocar um país contra outro, apenas
para satisfazer suas ambições desmedidas. Eles jamais sentirão o terror da morte
antecipada, com suas carnes dilaceradas pelo fogo dos canhões.
Contudo homens são homens. Em meio a carnificina, atos isolados de heroísmos,
de abnegação e mesmo de extrema humanidade se fazem presente.
Onde o humano e o racional quase deixaram de existir.
Porém o importante é nutrir um ódio ao inimigo como somente os homens sabem alimentar.
E neste ínterim, descobrimos que o campo de batalha está em toda parte,
não é só onde troam os canhões. Justamente onde estiver o ódio, a inveja,
o preconceito, o racismo, ou em qualquer lugar onde palavras possam destruir
um homem, rasgando seu peito, dilacerando sua mente.
Talvez muito pior do que o fogo da metralha, sejam os apaniguados do terror, que
estão em toda parte, criando seus campos de batalha.

sábado, 21 de julho de 2007

O que é o amor...

Perguntei a fada madrinha , o que é o amor.
Ela nada respondeu. Dizem que ela sofre por amar
um homem que nem mago é.
Então não lhe pergunte o que é o amor.
Pergunte ao Peão, ao João da gravata, ao Chico do punhal,
cada um pode lhe responder, pois a eles o amor fez sofrer.
Disse o Peão: o amor é uma asneira, quando ele toca a gente,
nós só faz besteira.
Disse o João da Gravata, o amor é uma roseira, quando espeta
nos tira sangue, é uma dor lancinante, mas, quando cai uma
rosa, algum tempo nasce outra.
Disse o Chico do Punhal, o amor é como um estilete, quando fura,
é o coração que acerta, ai nós sangramos, nos deixa esvair todos
os sentimentos, é um tormento.
Pergunte a mulher do bar, ou a menina coquete, ou a mulher
da rua, ao doutor ou mesmo ao monge, todos dirão a mesma coisa
é dor e tormento, é sempre um lamento.
Disse a mulher do bar, o amor é como um copo de vinho, nos
embriaga, quando acaba fica um vazio de chorar.
Disse a menina coquete, o amor e como chiclete, a gente mastiga,
masca, mastiga e tira todo o sabor, então fica muito ruim, fica sem
gosto, sem açucar, a gente tem que jogar fora.
Disse a mulher da rua, o amor é um devaneio, quando a gente sente,
ele já entrou no meio...
Disse o doutor, o amor é uma doença que felizmente tem cura.
Disse o monge aos seus discípulos, o amor é uma dádiva de Deus,
por isso ele se manifesta em todos os seres.

Oração aos políticos, corruptos e afins

Deus, em sua infinita bondade e justiça, de aos maus políticos e homens públicos dessa nação
muitos anos de vida. De modo que com o passar dos anos, eles venham a sentir na própria
carne, a fome, a miséria, a ignorância, a violência e a injustiça que proporcionaram ao povo.
Que cada viúva, ancião, trabalhador desempregado, cada preso que vive em regime
subhumano, cada criança que passa fome, e outros males que porventura venhamos a ter
conhecimento que a culpa lhes cabe, venham eles a sofrer juntamente com seus familiares
até a quinta geração, de dores mais profundas, como a prostituição física, moral e espiritual.
Que a droga e os piores vícios os acolham em seus braços. Que os anjos infernais os acompanhem
sempre, ajudando-os a se pervertem junto com seus entes queridos. Que eles tenham prazer
de vê-los se suicidarem. Que cada individuo que sofre por obra e graça dos políticos, ore para
que isto aconteça, pois dessa forma estaremos vingados, e eles estarão sendo condecorados
pelos seus feitos e ações. Clamo a Deus, Adonai, Ala, Zambi, Khrishna, o outro ser supremo
que venha ajudar-nos nessa empresa. Que nos de vida e saúde, afim que possamos sair
desta situação medíocre em que vive a maioria de nossos irmãos, tudo por conta da corrupção
moral. Que os anjos do bem e do mal, digam: assim seja.
Per ogni secula, seculorum.

Corro

Corro, vivo correndo da morte e da má sorte.
Corro, corro atrás da senhora fortuna e da boa sorte.
Corro, corro atrás de ti embora não saibas.
Corro, corro com os meus pensamentos em todos os
quadrantes, mais veloz que o vento.
Corro, vou e volto pensando em ti.
Corro, corro para dormir, pois quando durmo não sonho,
porque vivo a realidade que está em ti.

Não chore pelos homens

Corri da fome, porque me disseram que ela é terrível.
Ela trespassa seu estômago como um ferro em brasa.
É uma dor lancinante, que lhe dá vontade de chorar.
Ai, você chora com medo da fome, e ao mesmo tempo,
chora porque os homens fizeram-lhe sentir.
Sentir seu corpo definhar, sua mente embaciar.
Que fiz eu, para a fome me abordar?
Pergunta um menino, em alguma parte do mundo.
Sinto a queda do meu ser, sinto minha vontade esvanecer,
sinto a fome se acercar, ela vem como uma madrasta pungir
o meu porvir.
Como farei para lhe fugir?
Nada sei! Nada posso saber, os homens querem me sacrificar,
fala um menino em alguma parte do mundo.
A febre do poder nos faz dilacerar. A febre da posse nos faz matar,
com ela vem a fome para nos sacrificar.
África, no meio, a morte a lhe cercar. Oriente e Ocidente nada a lhe
obstar, a fome, sempre a fome a todos sugar.
Pergunta um menino, em alguma parte do mundo,
serão eles civilizados?
Se forem, porque nos deixam matar?
Chore criança, chore. Mas não chore pela fome, ela não merece.
Chore por você não ter o que comer.
Chore pelos seus iguais em alguma parte do mundo.
Chore pelo mundo de indiferença.
Chore, mas não chore pelos homens, eles não merecem sua lágrimas.

Senti

Senti fome do seu eu ligado ao meu.
Senti falta do seu ar misturado ao meu.
Senti sede de suas palavras, pois eu as bebia.
Senti que falta uma parte de mim, só não sei de que lado.
Senti um vazio na sua ausência que me deixou oco.
Senti o calor do deserto do mesmo modo de quem sente sede.
Senti o frio glacial das geleiras do mesmo de quem sente frio.
Senti a falta de sua luz, pois ela iluminava os meus caminhos.
Senti a morte passar pedindo desculpas por me deixar vazio.
Senti o tormento da dor por perder um grande amor.
Senti enfim, o poder de sentir, e o muito sentir.

É aquele tal de dois em um

Quantas linhas foram escritas para definir a palavra destino?
Não sei. Creio que milhares e milhares, mas não importa.
Vamos adiante, vamos continuar a pensar. Por exemplo:
De que modo o destino falha? Ou não existe falha no destino?
Porque o destino é importante?
Ah! Já sei, porque sem destino a lugar algum se chega.
Você tem idéia do seu destino?
Não! Apenas tenho em mente a linha que quero tomar.
E se o destino não deixar?
Vamos rir ou vamos chorar?
Nada disso, vamos apenas viver o momento que o destino nos
reservou. Epa! esse é o meu ou o seu destino?
Como vou saber? Estamos juntos? Você quer nos separar?
Separar? Você está louco!
Perguntei para poder vislumbrar qual destino a cada um pertence.
Só desse modo saberemos qual será o seu e o meu destino.
Isso creio ser de somenos importância.
Temos agora somente um destino, ou não temos?
Estamos juntos, esse é o nosso destino.
É aquele tal de dois em um.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O homem... o ser esquecido

No rio da vida, que deveria ser um manancial de águas claras e mormurantes, deparamos hoje
com a poluição da ganância, corrupção, hipocrisia, inveja, ódio e arrogância.
Então passamos a ver corpos inanimados em sua viagens macabras pelas corredeiras da vida.
Disformes como câmaras-de-ar estouradas, bóiam em grotescas posições, formando imagens
horríveis de uma raça deteriorada. O sentido da vida dessa espécie de ser humano está extinto,
pois a existência em sua pura nobreza já está cansada pela baixeza moral, intelectual e física.
O próprio espírito já se afastou dessas condições, onde os acordes melodiosos da musica foram
substituídos por sons dilacerantes de agonia e terror. O calor humano foi substituído pela frigidez.
O amor pela indiferença, e a tolerância pela agressão e a guerra. O bem maior, a coroação de todo
universo que é o amor, foi sufocado. O que veio em seu lugar para dar prazer e levar o climax da
nossa galáxia aos píncaros, foi a divindade que há milênios começamos a louvar e cultivar,
que é, a dama maldade humana, mãe da morte violenta.
Essa é a nossa atual posição.
O homem conquistou o espaço, posou na lua, porém esqueceu os deveres de casa.
Esqueceu a si próprio. O homem... o ser esquecido. Que tétrica contestação.

Ghandi

Curioso, dias atrás li uma poesia entitulada "SE", de Sir Ruyard Kipling.
Fiquei a imaginar qual seria a pessoa que poderia se enquadrar e personificar esta poesia.
Naquele momento não consegui ver alguém que pudesse ser enquadrado.
Mas ao ler algo referente a Mohandras Mahatmah Ghandi, enquadrei-o, visualizei sua caminhada rumo
a independência da Índia. Sem dar um tiro.
Enfrentou na ocasião um dos maiores impérios do mundo.
Foi odiado, e ao ódio se esquivou. Muitas vezes sofreu a dor de ver nos jornais, mudadas
as suas palavras em armadilhas, mas persistiu com sua férrea vontade.
Pelo que li, ele nunca perdeu a naturalidade perante quem quer que se lhe apresentasse.
Forçou seu coração, seus nervos e músculos, tudo em prol de uma Índia melhor.
Foi guerreiro da paz, não portava armas, foi estadista e sobretudo um Homem.
Porém não podemos chama-lo, de chanceler de ferro, porque o ferro acaba corroído pela
ferrugem, e ferrugem não faltou ao seu redor tentando corroê-lo.
Foi duro firme e seguro na espinhosa missão que lhe foi concedida pelos deuses.
Foi assassinado pelo Império.
Mas ganhou a imortalidade e veneração dos homens de boa vontade.
Provou que a mente de um homem pode vencer a força bruta.
Mate-me, mas, as minha idéias ficarão.

O avião

Com sua linha longa, e um tanto bojudo, parado há poucos metros da estação de passageiros, aguardava
os últimos preparativos para mais uma viagem.
Esse imenso pássaro, voraz em sua forma, havia engolido uma centena de almas.
Com seu dorso prateado, iluminado pela luz da lua seguiu devagar para a cabeceira da pista.
E dali, célere, em bela corrida, alçou vôo em direção as estrelas.
Subindo, subindo sempre, com um ritmado ronronar de seus motores, alcançou altitude suficiente para
seguir seu curso.
Acima das montanhas, transpondo mares, segue ele deslizando pela atmosfera. Em seu bojo mais de
uma centena de pessoas. Uns dormem, outros lêem, alguns conversam baixinho, um casal de velhinhos
mantém em seus rostos a satisfação de rever os lugares queridos de sua mocidade. Uma criança
choraminga. Existe aqueles que apenas procuram colocar seus pensamentos em ordem, passando
em revista os escaninhos de suas consciências, fatos que foram deixados milhas atrás, e também o
que deverá ser feito muitas milhas a frente, na próxima escala.
De repente, ninguém sabe como e porque, surge o espectro do medo e pavor. Fogo a bordo.
Faltam poucos minutos para chegar ao destino. O belo pássaro agora iluminado pela luz do sol,
descerá e obterá socorro, a chaga aberta pelo fogo será curada.
Todos a bordo rezam.
O comandante, como um bom pastor, tenta levar suas ovelhas para lugar seguro.
E o fogo inclemente corroí as entranhas da grande ave.
Mais cinco minutos, quatro, três... falta pouco, estamos quase chegando, já se avista o aeroporto,
falta muito pouco. Vamos grande pássaro, agüente mais um pouquinho!
Vamos resista, estamos quase chegando.
O pássaro de prata com o fulgor do sol em sua fuselagem brilha e rebrilha.
O fogo destruindo as suas entranhas o obriga a descer. Ele desce, e aos trancos entra em contato
com a terra. Pula, contorce-se em triste carreira, derrubando árvores, ceifando arbustos, dilacerando
e abrindo sulcos profundos na terra ele para, já não há mais possibilidade de socorro.
Então o lindo pássaro prateado ferido de morte é envolto pelas chamas.

O mundo da criança

Quando somos crianças criamos um mundo, e nele vivem0s até a puberdade,
ou quiçá muito além. Não importa a criança o berço em que nasceu.
Se seus pais são ricos ou pobres. Se o mundo do adulto é bom ou mal.
São nas fantasias imaginadas que aparecem as aventuras, e com seus brinquedos,
que nem sempre podemos chama-los assim. Pois um pedaço de pau, um vidro de
remédio vazio, uma lata velha, tudo isso tem uma coloração diferente e formosa.
E nós, os adultos passamos por metamorfoses que nos incute a malícia e o desejo
de menosprezar os menos afortunados. De humilhar e de se fazer superior perante
aos outros. Mas tudo isso passa, o tempo se encarrega de fazer c0m que todos
mais cedo ou mais tarde, encontre a desventura ou a fortuna. Nossos erros e
acertos nos serão entregues na bandeja que o tempo oferece, e a qual ser algum
pode se furtar de aceitar. Todo indivíduo tem o direito de procurar o que mais lhe
convém.
Deus deu ao homem o direito de pensar, de sonhar, de escolher a sua fé,
o seu clube, o seu partido político, e até o poder de realizar os seus sonhos.
Porém os homens criaram o conceito de sociedade, e nela procuram subjugar seus
semelhantes, em prol de uma minoria. A ciência moderna nos acena com uma vida
mais longa, com saúde e conforto, mas, jamais nos dará o conforto da mente de uma
criança. Onde o nosso mundo se tornaria leve e suave, por excelência feliz.
Estou certo em dizer que o mundo da criança é o mundo da vida e do amor.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Brisa

Corre o vento veloz de quadrante a quadrante.
Procura ele algo de inestimável valor.
É a sua meiga e singela menina, que sopra o seu amor,
e acalanta seus anseios.
Onde estará ela?
Correndo sôfrego desejo, ele assola com sua trajetória
todas as direções, não se da conta que ao passar ele
leva os homens a sentir terror.
Ao passar por uma restinga ele distingue sua amada,
brincando com as águas de um pequeno lago.
As ondas volteando levemente, com ela a brincar, pareciam
pequenos travesseiros desmanchando-se suavemente na
branca areia da praia.
É a sua menina, é a sua amada, é a sua pequenina Brisa.

Tempo

Tenho um amigo chamado Tempo.
Tenho tempo de a você dedicar o meu tempo.
E se não fosse o tempo, com você eu não estaria.
Então viva o tempo, pois descobri que ao passar
o tempo nesta vida, sem tempo ninguém seria.
E nesse meio tempo vim há saber, que Deus,
Generoso como só Ele pode ser, tanto tempo
Dedicou-me. Depois falou-me, filho tudo que você
desejar neste mundo é seu, porém dentro do seu Tempo.


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Ponto de exaustão

Chegamos a terra, passamos por diversos períodos fundamentais em nossa estada
neste planeta. Infância, adolescência, idade adulta e idosa. Cada etapa vem permeada
de aprendizado. E ao passarmos de uma fase para outra, nem sempre estamos cientes do que está ocorrendo.
Só daremos conta do acontecimento algum tempo mais tarde.
Ao chegarmos em determinada idade, que podemos dizer temos conhecimento
pleno de nós mesmo, quase sempre estamos a beira de uma encruzilhada,
e é nesse momento que entra o discernimento, ou o livre arbítrio.
Sabemos que de algum modo estamos no limiar da exaustão, quer seja funcional como afetiva . Existe algo dentro de nós que nos impulsiona para uma mudança
que se faz necessária, logicamente procuraremos o caminho que nos parece
o melhor (é o livre arbítrio). Ser humano algum deseja o pior para si.
De repente com a mudança, passamos a trilhar uma vida cheia de armadilhas e amarguras, onde somos deixados a vaguear no desamparo das incertezas, e patinar no desespero de não encontrar a felicidade que nos foi prometida (pois assim o pensávamos ao mudarmos), e agora como poderemos sorrir de corpo e alma.
Vamos então procurar razões que não nos parecem lógicas, pois ao invés de termos encontrado o caminho do Nirvana, dá-se o inverso.
Fomos enganados, por quem e porque?
Não sabemos, só nos resta a viver no vácuo, no espaço etéreo, onde não existe som
e a luz está muito distante, seremos apenas corpos celestes transitando sem
orbita própria, esperando que um dia tudo se restabeleça, antes que seja tarde
demais, pois estaremos no ponto crítico da desesperança e da exaustão.

Noite de Ano Novo

Aqui na minha sala de trabalho, distante de vozes, ouço os rugidos das
maquinas que passam fantasmagóricas diante de minha janela, lançando
raios dardejantes de seus olhos espectrais.
Aqui dentro tudo é silencio. As maquinas de telecomunicações
permanecem em indiferente letargia, todas parecendo desligadas.
Mas, basta acionar uma tecla, um simples botão para adquirirem vida própria.
Na minha sala é audível apenas o tic-tac do relógio de parede marcando
um horário comum a todos os seres humanos que vivem
na “comunicação”, marca ele agora 23:13GMT.
Quantas mudanças e transformações tiveram ensejo nestas 23:13GMT.
A terra girando em seu eixo já tem quase completa a sua tarefa
de um dia de trabalho. Hoje é um dia especial a terra também terá
completado mais uma volta em torno do sol. Um novo ano está ´prestes a
nascer.
Apesar da rotina, um novo dia, um novo ano
é sempre motivo de expectativa e quiçá de esperança renovada.
É uma vontade de mudar, de crescer, de subir, subir e subir
além de nossos sonhos, sentir o prazer do infinito em nossos

corpos finitos no universo do amor.

Terceiro Milênio

Século XXI. Maquinas velozes resolviam quase todos os problemas dos homens.
Os computadores de ultima geração emitiam dados estatísticos em milésimos de
segundos. Os aviões em supersônica velocidade e sem ruído algum, cortavam os
céus em altitudes fantásticas. Os automóveis movidos por impulsos eletrônicos
deslizavam pelas largas avenidas, como se fossem folhas de outono levadas pelo vento.
Raquíticas árvores faziam o arremedo de arborização, nos parques dos grandes centros populacionais. Apesar de todo aparato mecanizado, da rapidez,
e da avançada tecnologia eletrônica o povo não se sente feliz.
O ar é denso e pesado, uma névoa amarelada cobre todo o planeta terra.
Longe está o tempo áureo do verde mar de florestas, e os seus habitantes
naturais, dos rios borbulhantes, do prateado dos lagos.
Agora só resta o consolo do lar, do ar purificado, da musica de séculos
passados, que nos faz sonhar com campos verdejantes, com flores a
balançar pela suave brisa, elevando aos céus inebriantes perfumes.
Que felicidade seria podermos voltar aos tempos antigos.
A época dos minuetos, da liberdade quase total, de correr pelos campos
como se fossemos petizes a brincar.
De rolar na grama húmida de orvalho, de olhar o azul do céu,
de ver nuvens de todas as formas. Brancas nuvens...
Ouvir o canto dos pássaros, olhar o volteio de um colibri a beijar uma flor.
Contemplar as formigas em sua incansável faina de preparar-se para o inverno.
Enfim tudo terminou com as velozes maquinas, até a felicidade, a simples

felicidade de tomar uma cerveja no bar da esquina.
Sobrepujando tudo isso, vamos tentar sentir a alegria da vida e da natureza, afinal
estamos no século XXI, era de Aquarius, era do amor.

Perdão

Procurei sempre o contato com a natureza.
Senti
o arfar da terra, as lufadas de ar, o bramido do mar.
Porém jamais pensei que ao te amar tristezas iria espalhar.
Ternura e carinho em espinhos fossem se transformar.
Lacerar tua carne e o coração, e a tua mente destroçar.
Empurrar o teu amor para o abismo, e fazer-me odiar.
Estou abalado, porque de teus olhos fiz lágrimas saltar.
Como pude ser tão cruel, e a tua vida sacrificar.
Recebi de herança o tempo e o infinito, embora eu seja finito.
Mas, a sabedoria da vida veio me faltar.
Peço-te perdão...
Perdão por ter te lançado no espaço etéreo...
Espero que um novo amor te venha vivificar.
E com isso minhas culpas saldar

Não existem

Não existem lágrimas sem tristezas.
Não há domingo sem missa com sermão.
Não existe confiança sem certeza.
Não existe amor sem coração.

Não há manhã sem orvalho.
Não há ódio sem rancor.
Não há prosperidade sem trabalho.
Não há saudade sem dor.

Não existe alguém sem alma.
Não há fogo sem calor.
Não existe palmeira sem palma.
Não há vida sem amor.

Não existe pintor sem pincel.
Não há amargura sem tortura.
Não existem estrelas sem o céu.
Não há amor sem loucuras.

Dia das Mães

Hoje dia das Mães. Que dia feliz. Como é bom a gente ter mãe.
Nós sofremos, trabalhamos, amamos, brigamos, tudo fazemos e desejamos neste mundo.
Mas há um momento, há um instante que tudo o que temos nos parece fútil.
Tudo o que fizemos não nos parece bem. Queremos apenas ter a nossa mãe,
beija-la, acarinha-la e dar-lhe a nossa vida se preciso for.

Mãe que posso fazer para mostrar-lhe meu amor?
O que poderei dar-lhe em troca das vicissitudes passadas por mim?
Não! Não existe coisa alguma neste mundo que possa assimilar todo amor, carinho e
dedicação que você me proporcionou.
Igual a você mãe, são todas as mães que aqui vivem ou viveram.
Hoje nesta data, minha mãe, gostaria de fazer algo de muito belo para você.
Dar-lhe o mundo, ou as estrelas, porém sei que em troca de tudo que eu venha
a lhe oferecer, você só quer o seu filho, apenas o seu menino querido, e ouvir
a minha voz dizer: Mãe eu preciso de você.

Ser alguém

Não pense que a esqueci, pois homem algum na terra pode esquecer o mar,
as montanhas, o céu, as estrelas e sobretudo as flores.
E tu és uma flor.
Quantas vezes fico a divagar pelos caminhos, como a vida é bela e ao mesmo
tempo estranha.
Quantas vezes saímos sem rumo, sem destino, deixando que o acaso nos leve
a esmo, como uma brisa soprando uma pena, deixando-a cair em qualquer lugar.
E aí se nos depara o inesperado.
Encontramos o que não queríamos, ou então afortunados que somos, se nos
apresenta o amor, a felicidade, que é a glória majestosa que nos recompensa
por sermos alguém.
Quantas vidas neste mundo serão felizes a este ponto?
Quantos milhões de vidas qual uma pena soprada pelo vento caem num caudal
de infortúnios e afundam na miséria da tristeza e desespero?
Muitas vezes é tarde demais para ajudarmos alguém vir há ser alguém.
Muitas vezes vemos pessoas fenecerem em vida porque no amor não puderam
ser alguém. E na luta da vida, no cotidiano, continuam a andar, a correr, trabalhar,
a chorar até morrer.
Que tristeza amar sem ser alguém. E ser alguém sem ter há quem amar.

A Chuva

O sertão queimava...
O gado, a roça, os homens, tudo seco e sedento...
Tudo parado... água nem um pinguinho.
Os campeiros, com amor e piedade, faziam preces
ao Deus-menino.
Os roceiros rezavam baixinho.
E se o gado morre, as plantas murcham?
Como viver? E os nosso filhos, ficarão sem comer?
Ah! Olhem o céu! Vejam! As nuvens se avolumam.
Súbito, relâmpagos, trovoadas... é a chuva...
Ela vem caindo, a principio grossa mas esparsa,
depois mais fina e também mais forte.
O gado muge, as plantas se deitam, como cansadas de sol,
as crianças da vila correm a brincar.
Água benfazeja a correr pelos caminhos formando
pequenos riachos e laguinhos, é a fortuna líquida que todos
esperavam, o rio transborda, mas quem se importa...
Enfim é a chuva que todos queriam.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Ao Longe


Bem longe está o tempo que a conheci.
Bem longe está aquela garotinha de transas, magrinha,
com riso franco e o rosto pintado por sardas.
Bem longe está o tempo em que nada nos preocupava,
apenas brincávamos.
Agora! Porque chora? Ainda não sabe?
Você cresceu menina, cresci também.
Tudo a nossa volta mudou, você não vê?
Já penso como homem, estou agindo como homem.
Que pena não sou mais criança.
E você?
Também mudou, a flor desabrochou,
o botão que era, em bela rosa se tornou,
e de rosa em mulher se transformou.
E agora? Descobriu porque chora?
Você cresceu menina, cresci eu, não pode imaginar?
Não... não poderia ser assim , neste instante somos
adultos, e encontramos a realidade da vida.
Aquele mundo no qual brincávamos de viver,
mundo de fadas e príncipes encantados como em
um passe de mágica infantil evaporou.


H²O

Aqui estou divagando, mirando o infinito com olhos que um
dia serão finitos.
Procurando o dia de uma noite sem eco.
Sentido o hidrogênio sem oxigênio. Fazendo uma viagem sem fim,
sem nada encontrar em volta de mim.
O que passou, passou. Tenho alguma culpa?
Fiz eu algo de mortal que venha a merecer a pena capital?
Não sei... não sei...
Tudo é vazio entorno de mim. Um dia fui rei e senhor, apoderei-me
de teu corpo, apossei-me de tua mente e estraçalhei o teu amor.
Amo-te ainda?
Sim, tenho certeza que é amor o que sinto por ti.
Como homem deixei de existir, pois já nada sei sentir.
Virei barro, de pedra me tornei.
Para voltar a ser o que era antes, tenho que ser hidrogênio e
tu oxigênio.
Só assim poderei fluidíficar e sair pelo mundo a correr e gritar
que ainda sei te amar.

Noite

Noite! Sim noite.
Não há luz, minh’alma está dorida
Uma vida ainda mal iniciada, já esta finda.
No espaço etéreo onde não há luz e não existe som,
só o silencio está presente.
Silencio de um pensamento, silencio de uma voz
silencio infinito.
Corpos celestes vagando nesta imensa plaga sem luz,
tão imensurável que chega a ser constrangedor.
Uma vida finda, um cemitério de dor.
Uma alma vagando a procura de amor.
Noite, sim noite... uma eterna noite.
Oh Deus de piedade! oh Deus do amor!
Fazei a luz voltar, sem pranto e sem dor.
Dai-me a paz, conceda-me o amor.


Olhando e pensando

Olhando o mar azul, o sol inclemente, as ondas
quebrando-se na branca areia da praia, que está
cheia de gente.
Olhando e pensando, muitos trabalham sob este
mesmo sol inclemente, outros tantos brincam,
muitos nascendo, e outros tantos morrendo.
Olhando e pensando, quantas idéias mal pensadas
erguem-se neste dia por essa gente, e quantas idéias
bem pensadas também.
Olhando e pensando, quantas tristezas aliviadas,
quantas alegrias desfeitas, quantas esperanças
que chegam e quantas se vão.
Olhando e pensando, a vida é assim, olhando, pensando,
brincando e até chorando, tristeza que vai, alegria que vem.
Olhando e pensando, a vida é assim, como o navio

entrando no porto, traz alento para uns e desalento para outros.

olhando e pensando, a vida é assim... e o amor que não vem!


O Sino

Bate um sino!
É tão estranho ouvi-lo na cidade grande, no meio fervilhante de pessoas apressadas.
O ronco dos motores, as preocupações cotidianas, o trabalho, a rudeza da vida.
O azáfama do progresso, do desenvolvimento, não permitem as pessoas escutarem
o sino que bate, bate e bate.
Anuncia ele 18:00 horas, término de um dia, principio de uma noite.
Ele badala pelas horas de trabalho que passaram, pela agitação da vida, pelo amor,
pela dor e morte.
O sino bate, quebra um silêncio inexistente nesta grande cidade, mas que existe
em minh'alma.
Ninguém ouviu o sino bater, ou aparentam não tê-lo ouvido.
Eu ouvi, e isso basta!
Eu senti cada vibração de seu badalar, senti saudades do tempo de menino.
Senti saudades das missas dominicais, das Santas Missões, das festas
paroquiais.
Senti que o tempo passou, senti-me como se vivesse uma eternidade desde
aquela época.
E agora velho e alquebrado, sem forças e sem luz, em um mundo estranho
que ninguém conhece, onde não existe sentimento, um mundo terrível.
Não há dor, também não há carinho, não há lágrimas, também não há o amor.
Mais uma vez o sino bate, é o seu ultimo badalar, desperto de meu sonho.
Em que mundo eu estava? Era tudo incolor.

Vida... Liberdade

Os pombos saltitavam na aléia, por onde, poucos minutos atrás,
haviam passado crianças brincando, e comendo suas guloseimas.
Ao lado da aléia a grama verde rebrilhava ao sol.
Mais além, à sombra de um arbusto, um preto velho, cantarolando,
arrumava seus parcos pertences em uma trouxinha.
Como pode um homem viver assim, sem casa, família e trabalho?
Como pode uma pessoa cantarolar sabendo que é um paria?
Como pode um ser que vive sem dinheiro para as coisas indispensáveis
na vida um ser viver cantarolando? perguntas que vieram de imediato
a minha mente.
Respostas talvez a tenha, mas devem ter uma razão muito
simples de ser, e por ser simples não a podemos ver.
Parece-me que para ele a vida é a liberdade de ir para onde desejar
sem dar satisfação a quem quer que seja.
Que a vida para ele é similar a vida dos pombos que se contentam
com as migalhas caídas dos viandantes. Ou ainda que a vida não
passa de uma brincadeira de petizes nos parques e jardins.
Para ele talvez as pessoas que correm apressadas para o trabalho
refletindo nas faces seus anseios e preocupações, não passam
de uns pobres diabos acorrentados ao deus dever.
Por isso, ele canta, por saber que as maquinas e tudo o mais,
não passa de efêmeras ilusões, que levam os homens a destruição
e ao caos.
Sim, para o preto velho cantar no parque a sombra amiga de uma
árvore é a certeza de que o mundo é seu.
Que tem o sol para aquece-lo, que a noite tem o banco do parque
como leito, e o céu e as estrelas como teto.
Amizade, fortuna e amor!
Creio que ele deve ter a amizade dos pássaros, a fortuna de ser livre,

e o mais importante, o amor a Deus e a vida, e de Deus por ele.

O velho dia


E a chuva caía torrencial.
Encharcado até os ossos, ele caminhava pelas ruas a pensar. O que sou?
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
Uma poça aqui, outra acolá.
A água a correr pelo rosto como se fosse uma tormenta de lágrimas.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
As pessoas, os pequenos riachos formados pela chuva, os trovões,
e os esbarrões que ora dava ou recebia, nada disso o importunava.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem m parar, e sempre a pensar.
Somente o alimentava uma idéia fixa. Quem era?
Ele tinha impressão que séculos e séculos tinham passado, e que a vida
não tinha nem presente e nem futuro, tudo era igual. Todas as sensações
vividas e sentidas, todos os sonhos arquivados estavam a ser relembrados.
E mais idéias se formavam.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
O que fazia? Porque caminhava? Onde estava?Tinha ele cumprido o seu dever?
Existem tantas coisas por fazer.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
Quando se nasce já é a chorar, e o decorrer da vida é nunca acabar
de se magoar. Quem é triste e feliz? E quem é alegre e infeliz?
Ele pensava, não sei, não posso dizer e nem explicar se existe algo assim.
Creio mesmo que muitos são tristes e felizes, e outras alegres e infelizes.
É cômico pensar assim, que se pode ser triste e feliz ou então alegre e infeliz.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
É triste morar em uma favela sem conforto algum, mas se pode ali encontrar
o amor e ser feliz. Por outro lado se pode ter uma vida alegre e com conforto
e ser infeliz por não ter amor algum.
E lá ia ele caminhando, caminhando sem parar, e sempre a pensar.
E a chuva continuava a cair, e com ela à noite a se imiscuir.
O dia, o velho dia, morto de cansaço, e de chuva a se esvair, pensou que
sabia quem era, e porque não parava, porém trôpego e com as pernas
trémulas na vala acabava de cair, e a noite silenciosa com seu manto
negro o veio cobrir.

Abu el-Moura discípulo de Marabô o Eremita

A vocês mulheres que deram vida à nós homens.
Tristes homens, que nada sabem da vida, pensam
serem os senhores do universo.
Triste universo, onde o homem caminha dilapidando
a natureza e matando o amor.
A vocês mulheres, que são a fonte da vida, peço perdão
por homem ser, em todo caso penso ter uma atenuante,
a vocês tento entender.

Com admiração e amor,

Abu-el-Moura